Você já deve ter experimentado olhar para as nuvens e identificar figuras do nosso dia a dia com formatos de ursinhos, flores ou aviões… Isso porque temos essa coisa intrínseca dentro de nós que busca formas conhecidas em figuras abstratas.
Isso sempre aconteceu em todas as culturas e civilizações de que temos notícia, por exemplo, diferentes tribos indígenas construíram diversas constelações no céu para explicar os fenômenos que observavam e contar suas histórias. A maioria destas constelações não são familiares para nós, mas elas foram construídas na história e imaginário destes povos. As constelações mais conhecidas por nós foram criadas pelos Babilônios, que são as Constelações do Zodíaco, aquelas conhecidas como signos.
Se você buscar em um dicionário, frequentemente você irá encontrar para constelação uma definição do tipo: “grupo de estrelas próximas, tais como vistas da Terra, e que, ligadas por linhas imaginárias, formam figuras conhecidas que recebem nomes especiais”. Na verdade, a palavra “próximas” só tem sentido quando falamos sobre a forma da constelação no céu, pois as estrelas que compõem uma constelação estão muito longe umas das outras e todas muito longe de nós. Se esse conjunto de estrelas fosse visto de outro lugar do universo, em outro ângulo, não formaria a forma que tem no nosso céu.
Como as estrelas estão muito longe da Terra, todas elas parecem ter a mesma distância de nós, mas não é verdade. A estrela mais próxima de nós é o nosso Sol. Depois dela, vem um sistema triplo conhecido como Sistema Alfa Centauri, composto pela estrela Proxima Centauri (4,22 anos-luz de distância do Sol), e Alfa Centauri e Beta Centauri (4,37 anos-luz de distância do Sol). Isso significa que a luz destas estrelas sai de suas superfícies e só nos alcança depois de um pouco mais de quatro anos.
Sirius é a estrela mais brilhante do nosso céu e está a 8,6 anos-luz de distância de nós, quase o dobro da distância que estamos de Proxima Centauri. Já Betelgeuse, na Constelação de Orion, está um pouco mais de 640 anos-luz de distância de nós. Entretanto, quando olhamos para todas as estrelas, elas parecem estar todas muito longe. Não é possível se ter uma noção de distância só de olhá-las no céu.
Então quando as constelações foram definidas, provavelmente os povos achavam que estas estrelas estavam ligadas de alguma forma e foram desenhadas por algum ser supremo para contar ao mundo suas histórias. No caso das Constelações do Zodíaco, elas contam sobre os mitos e lendas das personagens que lhes deram nomes há milhares de anos, mas não nos dizem nada sobre as estrelas em si.
Uma coisa que pouca gente se dá conta é que tudo no Universo está em movimento, inclusive as estrelas. Esse movimento é bastante rápido, mas devido às estrelas estarem tão longe, ele é praticamente imperceptível no nosso céu. É fácil entender isso se você fizer uma comparação rápida. Imagine que você olhe pela janela e veja lá longe um avião passando. Esse avião tem uma velocidade de 900 km/h. Isso dá uma velocidade em torno de 250 m/s. Se você colocar a ponta de seu dedo bem na frente deste avião e o mover a uma velocidade de 1 m/s, verá o seu dedo se mover muito mais rápido do que o avião, exatamente porque o avião está muito longe de você, parecendo que se move mais lentamente do que a ponta do seu dedo. Os movimentos das estrelas não estão na mesma direção, então um dia as constelações deixarão de ter a forma que têm hoje, mas irá demorar muito para que possamos perceber essas mudanças.
Durante muito tempo as Constelações do Zodíaco eram usadas na Antiguidade para indicar se era hora de colher ou de plantar, se o frio se aproximava, se já estava próximo da época das secas ou das inundações. Desta forma, o caminho do Sol no céu foi dividido em 12 fatias de 30 graus, totalizando a circunferência de 360 graus. Na média, cada fatia continha uma constelação e o Sol deveria caminhar o mesmo tempo por cada uma, mas isso não é o que ocorre. Há constelações maiores e outras menores e o Sol não mantem a velocidade constante durante todo seu caminho. Ele leva 45 dias para cruzar Virgem, enquanto permanece em Escorpião por cerca de apenas sete dias.
Na época em que as constelações foram registradas, há quase três milênios, o Sol estava na constelação de Leão entre 22 de julho a 21 de agosto, significando que alguém que nasça neste período seria do signo de Leão. Se usássemos a mesma lógica hoje, devido a precessão dos equinócios, uma pessoa que nasça, por exemplo, em 01 de agosto, seria do signo de Câncer.
A Figura 1 mostra a representação das Constelações do Zodíaco. Ainda nesta faixa da eclíptica também se encontra a constelação de Ofiúco (Ophiuchus), conhecida como Serpentário, que não está sendo mostrada na figura. Essa constelação está entre Escorpião e Sagitário e o Sol passa por ela de 30 de novembro e 17 de dezembro (Figura 2).
Desde seu nascimento e por muitos séculos, a Astrologia caminhou junto com a Astronomia. Os povos antigos acreditavam que poderiam “ler” o céu através de suas figuras mitológicas e levar essa realidade para entender os fenômenos que aconteciam na Terra. Acreditavam que poderiam até prever o futuro a partir dos fenômenos celestes.
Embora a Astronomia tenha se tornado com o tempo uma Ciência que estuda a relação física entre os corpos celestes e os fenômenos que os envolvem, usando o método científico para entender os fenômenos da natureza, a ruptura entre ela e Astrologia só aconteceu definitivamente no século XVII, após a Revolução Científica. É preciso entender que hoje, Astronomia e Astrologia seguiram caminhos muito diferentes. A Astrologia não é uma ciência. Para ela, os astros influenciam a vida das pessoas, mas para explicar essa influencia não utiliza argumentos científicos.
Atualmente, o conceito de constelação mudou para os astrônomos. Antes de 1930, constelações eram consideradas como agrupamentos de estrelas na esfera celeste que, imaginariamente, formavam figuras de seres mitológicos, objetos, pessoas ou animais. A partir de 1930, uma nova definição foi adotada pela União Astronômica Internacional (IAU, do inglês International Astronomical Union), a qual é usada até hoje. Nesta nova definição, toda a esfera celeste foi dividida geometricamente em 88 regiões, sendo cada uma destas partes uma constelação, de forma que um observador na Terra, que olhe para o céu, verá qualquer objeto dentro de alguma destas constelações. Qualquer objeto celeste visto na região de uma constelação, mesmo não sendo uma estrela, é considerado parte da constelação. Detalhes podem ser encontrados no site da IAU.
A Bandeira do Brasil e as Constelações
Você sabia que a Bandeira do Brasil traz muitas estrelas e constelações do nosso céu? As estrelas representam os estados. A Figura 3 mostra a bandeira do nosso país e indica algumas constelações. Circulada em azul está a constelação do Cruzeiro do Sul. A estrela alfa desta constelação representa o estado de SP, a beta representa o RJ, a gama representa a BA, enquanto MG é representado pela delta e o ES pela estrela épsilon.
Essas letras gregas servem para identificar as estrelas dentro das constelações e estão relacionadas ao seu brilho aparente. A mais brilhante da constelação será a alfa, a segunda mais brilhante será a beta, a terceira, a gama e assim por diante.
Ainda na Figura 3, circulado de vermelho estão os estados do Nordeste, representados pelas estrelas da constelação de Escorpião. Antares é a estrela alfa desta constelação e representa o estado do PI na nossa bandeira. Beta é o MA. Se você quiser saber mais detalhes, clique aqui! No site você encontrará informações sobre todas as estrelas representadas na bandeira brasileira.
Já as Figuras 4 e 5 mostram fotos onde aparecem, respectivamente, as constelações do Cruzeiro do Sul e de Escorpião no céu de Maricá (RJ), em maio de 2020. Em minha opinião, esta última constelação é uma das mais bonitas!