Marie Curie, uma Inspiração para Meninas e Mulheres na Ciência

Hoje é o Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência. Por isso, escolhemos contar a vida de uma cientista que nos inspira: a polonesa Marie Curie!

Marie Curie foi uma menina e, mais tarde, uma mulher na Ciência. Marie sempre foi muito inteligente. Ela era a mais jovem entre os filhos de seus pais (quatro meninas e um menino). Conta-se que ela aprendeu a ler antes mesmo de sua terceira irmã. Seus pais ficaram espantados quando ela leu uma frase que sua irmã Bronia não estava conseguindo ler. Marie sempre teve uma personalidade rebelde e não se submetia à sociedade. Naquela época, a Polônia era controlada pelos russos e Marie não gostava nada disso. Quando chegou a época do ensino médio, ela não sabia o que fazer, pois ter que conviver com a rigidez russa nos colégios não era algo que ela gostaria. Quando terminou o ensino médio, não tinha mais o que fazer, pois na Polônia russa meninas não podiam ir à universidade e seus pais não tinham dinheiro para mantê-la estudando longe de casa.

Por se sobressair em sua curiosidade, Marie recebeu uma carta especial em um dia. Era uma carta secreta, que não podia cair nas mãos dos policiais russos. Nela dizia que Marie estava sendo convidada a ter aulas com cientistas, pensadores e historiadores importantes, por duas horas semanais. Era, na verdade, uma reunião para moças. Cerca de mil garotas estavam matriculadas nesta “universidade flutuante” de Varsóvia, em 1889. Mas isso não era suficiente para que Marie pudesse ser uma cientista de verdade. Então ela pensou em um plano. Ao conseguir um emprego de governanta aos 18 anos, juntou dinheiro e enviou sua irmã Bronia para se formar médica em Paris. Bronia casou-se em Paris e finalmente chamou Marie para morar com ela e seu marido. Já em Paris, em 1891, ela se inscreveu na Universidade de Sorbonne. Em 1894, Marie conheceu um cientista que trabalhava por lá chamado Pierre Curie e casaram-se um ano depois.

Marie Curie e Pierre Curie no laboratório, na Escola Municipal de Física e de Química Industriais de Paris.
Marie Curie e Pierre Curie no laboratório, na Escola Municipal de Física e de Química Industriais de Paris.

Em 1896, o pesquisador Henri Becquerel descobriu que uma amostra de sal de urânio sensibilizava uma chapa fotográfica. Foi o início da caminhada para a descoberta da radioatividade, mas Becquerel desistiu de entender o fenômeno, após muitas tentativas. Marie Curie sabia deste resultado de Becquerel e ficou muito curiosa com o fato. Então Marie decidiu testar todos os elementos possíveis da tabela periódica para ver se eles emitiam esses raios-X. Ela não obteve sucesso, então começou a testar os minerais. Ao testar o mineral pechblenda (um óxido de urânio bastante contaminado), para sua surpresa, os raios emitidos eram mais potentes do que os raios de urânio puro. Ela pensou, então, se não existiria outro material ali dentro, diferente do urânio, que estava emitindo os raios-x. Junto com seu marido Pierre, testou a pechblenda várias vezes para ter certeza do que estava encontrando. Posteriormente, eles testaram outros minerais que não continham urânio e encontraram outro mineral que emitia raios-X. Levantaram a hipótese de que realmente não deveria ser só o urânio que provocava este tipo de emissão. Diferente do que as pessoas acreditavam na época, Marie pensou que esses raios deveriam ser causados por algo intrínseco ao átomo do elemento em questão.

Marie resolveu extrair o elemento misterioso da pechblenda e Pierre a ajudou, deixando de lado sua pesquisa. Após a separação dos diferentes elementos, eles chegaram a um pó escuro que emitia raios mais de 300 vezes mais potentes do que os do urânio. Ela chamou esse elemento de polônio, em homenagem a sua terra natal. Foi ela também que inventou o termo radioatividade para descrever essa propriedade dos materiais de emitir radiação. Durante esse processo de separação dos compostos da pechblenda, uma das etapas produzia um líquido que não continha urânio e polônio, mas também era radioativo. Foi aí que ela descobriu outro elemento químico na pechblenda, muito mais radioativo que o polônio ou o urânio. Ela chamou este elemento de rádio. Pierre tentava entender as propriedades dos raios-x e Marie se encarregou de extrair mais desse novo elemento químico. Três anos depois, a partir de dez toneladas de pechblenda, Marie conseguiu extrair (imagina só!) um miligrama de rádio. Dá para imaginar? De 10 mil quilogramas, ela obteve 0,001 grama! Isso lhe rendeu seu doutorado em Física, em 1903. Neste mesmo ano, ela e Pierre foram laureados com o Prêmio Nobel de Física, tão sonhado pela maioria dos cientistas. Hoje, nas instalações do laboratório utilizado por Marie e Pierre, há uma placa indicativa com a frase: “Aqui se encontrava o laboratório no qual Pierre e Marie Curie descobriram o rádio (1896 – 1902)”.

Placa indicativa do laboratório onde trabalharam Pierre e Marie Curie na Escola Municipal de Física e de Química Industriais de Paris.

Eles poderiam ter ficado ricos com essa descoberta, mas decidiram que era algo muito importante na área da saúde e abriram a descoberta para a humanidade. Em 1904, ela conseguiu seu primeiro emprego como assistente-chefe no laboratório de Pierre, sendo finalmente nomeado professor na Universidade de Sorbonne. Eles trabalharam um pouco mais de dois anos juntos, até que um acidente levou Pierre embora para sempre. Marie estava viúva em com duas filhas. Ela recebeu a oferta de parar de trabalhar e receber pensão de viúva, mas ela queria aprender mais. Assumiu a posição de Pierre na universidade em 1908, sendo a primeira mulher professora da Sorbonne.

Em 1911, Marie conseguiu um feito inédito na época, seu segundo prêmio Nobel, desta vez em Química. Entretanto, o comitê do Prêmio Nobel pediu que Marie não fosse receber o prêmio pessoalmente porque os jornalistas insinuavam que Marie tinha um caso com outro cientista, Paul Langevin. Rebelde como ela era, vocês acham que ela ligou para o que a sociedade estava dizendo? Claro que não! E assim, Marie foi receber o Prêmio Nobel pessoalmente! Parabéns, Marie! Como admiro essa mulher!

Mas se você acha que as contribuições de Marie pararam por aí, ledo engano! Em 1914, quando começou a Primeira Guerra Mundial, Marie decidiu que iria ajudar a França no que pudesse e lutou para que aparelhos de raios-X estivessem disponíveis no maior número de hospitais do país, para que os médicos pudessem identificar os locais de balas e estilhaços alojados nos corpos daqueles que estavam lutando nos campos de batalha. Ela, então, percebeu que ter máquinas de raios-X nos hospitais não era suficiente, pois os soldados muitas vezes chegavam tarde demais. Assim, ela propôs um veículo contendo um equipamento de raios-X acionado pelo motor do carro, podendo ser um equipamento itinerante. Ainda não satisfeita, ela tentou angariar fundos para compra de mais veículos e equipamentos. No final, ela conseguiu 20 unidades móveis, 200 pontos fixos de raios-X e treinamento de 150 mulheres como técnicas destes equipamentos. A própria Marie trabalhou dirigindo e como técnica de raios-X nas proximidades dos campos de batalha durante guerra. Marie também treinou sua filha Irène, que aos 17 anos já dirigia as unidades móveis. Graças a Marie, atualmente os equipamentos de raios-X estão distribuídos por hospitais de todo o mundo e trazem melhores condições de vida para todos nós.

Irène Joliot-Curie e Marie Curie, mãe e filha, trabalhando juntas no laboratório coordenado por Marie. Fonte: Staford University.

Mesmo após a guerra, Marie continuou trabalhando nos estudos sobre radiografia e contribuiu na fundação do Instituto do Rádio, hoje Instituto Curie, em Paris, França, dirigindo o Laboratório de Física e de Química. Na página do instituto pode ser lido: “Institut Curie was born out of the determination of one woman, Marie Curie, and one important cause: the fight against cancer” (O Instituto Curie nasceu da determinação de uma mulher, Marie Curie, e de uma importante causa: a luta contra o câncer). Clique aqui para conhecer este instituto!

Na foto abaixo, Marie em uma conferência de Mecânica Quântica, em 1927, Bruxelas. A única mulher entre os grandes cientistas da época. É ou não inspiradora?

Marie Curie com outros cientistas na Conferência de Solvay sobre Mecânica Quântica, em 1927, em Bruxelas, Bélgica. Fonte: Benjamin Couprine.

Marie morreu precocemente de leucemia, aos 66 anos, devido ao contato frequente com substâncias radioativas, sem saber que elas podiam causar danos sérios às células. Entretanto, ela viveu ainda para ver sua filha Irène e o marido, Frédéric Joliot, ganharem também um prêmio Nobel, ao produzir radioatividade artificial. Os dois sintetizaram elementos radioativos artificialmente bombardeando boro, alumínio e magnésio com partículas alfa, descobrindo o princípio do reator nuclear. Diferente de Pierre e Marie, eles guardaram este segredo por causa da ascensão do nazismo. A partir deste momento, a radioatividade não dependia mais de substâncias raras. Joliot adotou o sobrenome Curie, se tornando Frédéric Joliot-Curie.

Irène and Frédéric Joliot-Curie. Fonte: Bettmann/Corbis.

Marie Curie foi uma grande cientista e uma importante incentivadora das meninas e de mulheres na Ciência, a começar pelo incentivo à sua própria filha! A família Curie tem o título de família com mais Prêmios Nobel até hoje!

5 comentários em “Marie Curie, uma Inspiração para Meninas e Mulheres na Ciência

  1. Lourdes Loureiro Responder

    Fiquei encantada. Parabéns Diana você muito feliz em prestar essa homenagem a uma grande mulher Marie Curie.

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