Mercúrio e suas Surpresas

Mercúrio é o menor planeta dentre os oito que temos na nossa vizinhança e é o que está mais perto do Sol. A Figura 1 mostra uma comparação entre os tamanhos dos quatro planetas telúricos, ou seja, planetas terrestres que estão na parte interna do Sistema Solar. Quando se pensa em Mercúrio, logo vem a ideia de um ambiente sempre muito quente e várias pessoas acham que mais quente do que Mercúrio, no Sistema Solar, só o Sol. Esse é um grande erro! Mercúrio não é o planeta mais quente do nosso sistema planetário. Este lugar é ocupado pelo planeta Vênus, mesmo ele estando mais longe do Sol do que Mercúrio. Se você não sabe o motivo deste aquecimento inesperado, mas estiver disposto a aprender, clique aqui!

Figura 1: Comparação entre os tamanhos dos planetas telúricos (ou terrestres). Fonte: nineplanets.org

Mercúrio gira rapidamente em torno da nossa estrela, sendo o planeta mais rápido em sua órbita, que ele executa em 88 dias terrestres. Entretanto, Mercúrio gira muito lentamente em torno do seu próprio eixo, perfazendo 59 dias terrestres. Por causa desta lenta rotação, um ciclo completo de dia e noite em Mercúrio dura 176 dias terrestres. Quando é dia, a temperatura é muito quente, podendo chegar a 430 °C. Por não ter uma atmosfera para reter seu calor, a temperatura na parte escura do planeta é fria, alcançando até 180 °C negativos (-180 oC)! Temperaturas desta ordem também podem ser alcançadas na região polar de Mercúrio, onde existem áreas sempre sombreadas e que conseguem manter nada menos do que gelo de água! Você podia imaginar isso? Em Mercúrio tem gelo de água! Essa foi uma grande surpresa. A Figura 2 mostra uma foto que indica regiões que são cobertas de gelo na superfície de Mercúrio.

Figura 2: Calota polar no norte de Mercúrio. As regiões amarelas mostram gelo de água. Fonte: NASA

A superfície de Mercúrio é muito parecida com a da Lua devido ao grande número de crateras. Isso porque ambos os objetos sofreram impactos de muitos asteroides e cometas na época inicial do nosso sistema planetário. Na verdade, todos os planetas sofreram grandes impactos, mas estes ficam menos evidentes em planetas que passam por mudanças geológicas, como a Terra. A Figura 3 é uma imagem obtida pela sonda MESSENGER, que estudou Mercúrio, e mostra o noroeste da Bacia Caloris, uma depressão com cerca de 1.500 km de diâmetro formada há vários bilhões de anos pelo impacto de um grande projétil na superfície de Mercúrio. A cordilheira na borda da bacia pode ser vista como um arco ao fundo. Em primeiro plano, vemos um conjunto de calhas tectônicas, conhecidas como Pantheon Fossae, irradiando do centro da bacia para fora em direção à borda do seu interior. Uma cratera de impacto de 41 km de diâmetro, Apollodorus, é superposta ligeiramente fora do centro de Pantheon Fossae. Branco e vermelho são topografias altas, enquanto verdes e azuis, baixas, com diferenças de altura total de aproximadamente 4 km. A nave espacial MESSENGER foi lançada em 2004 e encerrou suas operações orbitais em 30 de abril de 2015, impactando a superfície de Mercúrio.

Figura 3: Bacia Caloris, na superfície de Mercúrio. Fonte: MESSENGER, NASA

Uma curiosidade sobre Mercúrio é também sua estrutura interna, tão diferente do que se conhece aqui na Terra. A Figura 4 mostra um gráfico que compara as estruturas internas da Terra e de Mercúrio, como entendidas atualmente, criados a partir dos dados da missão MESSENGER.

Figura 4: Esquema comparativo entre as estruturas internas da Terra (esquerda) e de Mercúrio (direita).

O interior de Mercúrio tem uma proporção maior de material de núcleo metálico em relação ao material de rocha de silicato do que a Terra. Perceba que grande parte do raio de mercúrio é constituída por um núcleo metálico, que possui regiões nos estados sólido e líquido. Mercúrio também parece ter uma camada sólida de sulfeto de ferro que fica no topo do núcleo. A presença desta camada sólida impõe restrições importantes às temperaturas no interior de Mercúrio e pode influenciar a geração do campo magnético do planeta. Na Figura 4 (acima) ainda é mostrada uma comparação dos tamanhos radiais relativos da Terra e de Mercúrio, respectivamente.

Representação gráfica da estrutura interna de Mercúrio. Fonte: NASA’s Goddard Space Flight Center

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *